Yoga Ltda. ou Yoga Livre?
Caro(a) amigo(a) do Yoga,
Você está recebendo um Manifesto em andamento (1), um convite a refletir sobre a atual situação do Yoga, elaborado por iniciativa de Pedro Kupfer, Karin Heuser, Maurício Wolff, Camila Reitz, Markus J. Weininger e outros estudiosos e amigos do Yoga. O manifesto completo pode ser lido abaixo e está sujeito a modificações, atualizações e alterações.
Sinopse
Um grupo de “profissionais de Yoga” levou ao Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta a profissão de Yoga, clamando ser esse o anseio da totalidade dos professores, instrutores, praticantes e simpatizantes do Yoga no Brasil. Com a regulamentação, seriam criados Conselhos Regionais de Yoga para fiscalizar, controlar e extorquir dinheiro da comunidade de professores.
Disputas de poder e econômicas à parte (a real força motriz que está por trás desse movimento), a questão que levantamos é que, além de causar uma burocratização desnecessária, absurda e sem sentido, esse projeto infeliz vai acabar trazendo consequências nefastas para o Yoga que se pratica aqui no Brasil.
Yoga, Ltda. ou Yoga Livre?
Precisamos mesmo dos Conselhos Regionais de Yoga?
O Yoga vai parar nas mãos de empresas particulares.
Contexto
Primeiramente, disponibilizamos aqui algumas informações para quem não acompanhou essa discussão até hoje.
* Há cerca de dois anos (2000), os Conselhos Regionais de Educação Física (CREFs) começaram a postular que qualquer atividade profissional que envolvesse o corpo humano e não fosse executada por um profissional da área de saúde ou medicina cairia na responsabilidade da Educação Física, incluindo aí atividades como ensinar Yoga, capoeira, danças de salão, etc, e que os respectivos profissionais teriam que ser:
a) formados em Educação Física e
b) associados ao CREF de seu estado.
Para os que tivessem diploma de formação em qualquer curso universitário, o CREF indicava um “Curso de Nivelamento” de alguns finais de semana para que regularizassem sua atuação profissional (com o custo de aproximadamente R$ 2.000,00).
Vejamos dois detalhes importantes:
1) esse Curso não é reconhecido pelo Ministério de Cultura;
2) o mesmo é ministrado por firmas que pertencem às lideranças dos CREFs de cada estado, o que configura um caso claro de abuso de poder.
* Fiscais dos CREFs começaram a visitar escolas de Yoga para ameaçar professores (ou os proprietários dos espaços onde estes atuavam) com multas e ameaças de anulação dos alvarás de funcionamento, caso se negassem a “regularizar” sua situação. A grande maioria dos professores de Yoga ficou escandalizada e atos de solidariedade surgiram no país inteiro para que se defendessem contra essa prática, o que uniu um número razoável de professores de Yoga.
* A atuação de alguns professores de Yoga corajosos em conjunção com advogados engajados conseguiu intervir com êxito contra as práticas anticonstitucionais dos CREFs, no início deste ano (2001), através de mandados de segurança preventivos. Ao que tudo indica, os CREFs, por sua vez, sofrerão uma fiscalização por causa disso e, onde isso ocorreu, terão que devolver o dinheiro das anuidades extorquidas de professores de Yoga, assim como também as empresas devem devolver os valores pagos pelos “cursos de nivelamento”.
* Aproveitando o momento de mobilização da categoria, um grupo de “profissionais de Yoga” levou ao Congresso Nacional um projeto de lei que regulamenta a profissão de Yoga, dizendo ser esse o anseio da maioria dos professores, instrutores, praticantes e simpatizantes do Yoga no Brasil. Com a regulamentação, seriam criados Conselhos Regionais de Ioga / Yoga para fiscalizar a comunidade de professores.
* Com a regulamentação da profissão por lei, no futuro, professores de Yoga precisarão de diploma universitário (habilitação em Yoga). Os atuais professores precisam associar-se ao CRI/CRY de seu estado e comprovar sua formação na área. Os professores que formarão alunos de graduação em Yoga nas universidades precisarão de um diploma de pós-graduação em Yoga.
Para não entrarmos imediatamente nas questões de poder e dinheiro (a real força motriz que está por trás deste movimento), levantamos a seguinte questão: além de causar uma burocratização desnecessária, esse projeto vai acabar trazendo consequências nefastas para o Yoga que se pratica aqui no Brasil.
O ponto de partida do lobby
A ideia inicial, aparentemente nobre (“afastar os aventureiros da nossa profissão”), encobre certas consequências sobre as quais as lideranças do movimento pela regulamentação não estão falando abertamente, para não perderem o apoio da massa maleável e menos avisada dos colegas.
Aqui estão algumas das razões alegadas pelo grupo de lobistas do Yoga:
1) melhoria na qualidade do ensino dessa disciplina, evitando-se a ação de charlatães e pessoas pouco preparadas ou mal-intencionadas;
2) delimitação das áreas de atuação do Yoga nos dias de hoje perante outras profissões como, por exemplo, a Educação Física; e
3) definição dos padrões dentro dos quais acontecerá a formação dos futuros professores de Yoga no Brasil.
A ideia parece boa e eticamente aceitável. Porém, fazendo-nos algumas perguntas e questionamentos e entrevistando as lideranças desse movimento, acabamos por vislumbrar um quadro bastante preocupante para o futuro do Yoga no Brasil.
A suposição por trás do projeto de lei é que hoje os professores de Yoga estariam com qualificação insuficiente e que seria necessário reverter esse quadro. Portanto, esse seria um “movimento em defesa do consumidor de Yoga” que também permitiria, no futuro, que os professores adquirissem um status mais elevado que o atual, talvez até abrindo novas possibilidades como convênios e subvenções da área da saúde institucionalizada. Assim, com a regulamentação, um novo tipo de “profissional de Yoga” surgiria no mercado, mais qualificado e economicamente mais reconhecido.
O que faremos neste documento é demonstrar, ponto por ponto, que esse projeto de regulamentação:
* terá mais efeitos nocivos e contrários ao espírito do Yoga, a médio e longo prazo;
* é desnecessário para a comunidade do Yoga, que não depende desse tipo de instituição para existir, desenvolver-se e ser feliz;
* beneficia unicamente os burocratas aspirantes a cartolas que esperam uma fonte de renda pelo quadro que pretendem criar. O governo, por sua vez, tem um interesse em regulamentar as profissões, pois – indiretamente – isso pode ajudar à arrecadação de impostos nesse novo segmento de mercado.
A situação atual
Estamos vendo a algaravia criada em torno da regulamentação do Yoga com crescente preocupação. Temos a impressão de estarmos saindo da frigideira (associação forçosa ao CREF) para cair no fogo (associação forçosa ao CRI/CRY). Este abaixo-assinado convida a família dos yogis do Brasil para uma profunda reflexão. Sabemos que estamos nos expondo a críticas de todos os lados (principalmente das partes interessadas na aprovação dessa lei). No entanto, acreditamos que essa reflexão pode ajudar a ponderar onde estamos situados em relação à nossa prática e nosso ensino, e como enxergamos o Yoga neste país, hoje e no futuro.
Acreditamos que, longe de melhorar, a qualidade do Yoga ensinado no Brasil pode piorar muito, pois as consequências dessa regulamentação colocam em risco a própria existência do Yoga como veículo para a transcendência e a autodescoberta, reduzindo-o a um simples conjunto relativamente reduzido de técnicas (físicas) e a um objeto de estudo apenas acadêmico. Espiritualizado, talvez, mas, em última análise, um ratinho de laboratório.
Que Yoga não é Educação Física, é assunto sabido. Nem é preciso dizer que o Yoga é muito mais antigo, profundo, complexo e transcendental que a Educação Física. Sobre isso, há consenso absoluto.
As soluções práticas
Existem formas seguras de os professores de Yoga defenderem seus direitos de exercer a profissão contra ameaças dos Conselhos de Educação Física. Uma solução que já deu certo em várias circunstâncias (inclusive no caso do CREF do Rio contra a Academia de Yoga do professor Hermógenes) é solicitar a um advogado que elabore um mandado de segurança preventivo para evitar esse abuso de poder e garantir que o professor possa exercer seu direito de continuar trabalhando, até mesmo dentro de uma academia de ginástica.
Há um modelo de mandado preventivo de segurança disponível gratuitamente. Para disponibilizar esse documento na internet e assessorar colegas com seus direitos ameaçados, nós, um grupo de professores e praticantes bem intencionados, não precisamos fundar nenhuma associação, nem sindicato, nem fazer campanhas de filiação ou arrecadação.
Saímos da frigideira para cair no fogo?
É preciso separar a questão da Educação Física querendo absorver o Yoga da outra questão, não menos grave, de existir um movimento para a “regulamentação profissional” de algo (o Yoga) que não pode ser reduzido a uma profissão como qualquer outra.
Assim como o Yoga não pode ser submetido à autoridade dos Conselhos Regionais de Educação Física, tampouco pode ser submetido à autoridade de outra instituição, seja um Conselho Regional de Yoga ou um Sindicato, sem que sua essência corra riscos graves de danos irreversíveis. Da perspectiva do Yoga regulamentado, surge uma visão distorcida dessa filosofia prática, a qual passa a ser vista apenas como uma profissão técnica, distante do aspecto de sua profundidade espiritual ou filosófica.
Curiosamente, os Conselhos Regionais de Ioga / Yoga (CRI/CRY – as duas grafias são aceitas pelo projeto de lei) já nasceriam com dois trocadilhos inevitáveis no nome: “cry” significa em inglês chorar e gritar. “Chorar”, segundo o dicionário Houaiss, é “deixar correr as lágrimas que afloram aos olhos sob efeito de dor física, de tristeza, (…) sentir profunda tristeza”. Já “gritar”, segundo a mesma fonte, é “clamar por socorro, (…) falar ou dizer algo usando tom de voz muito alto, (…) queixar-se veementemente, protestar”.
Em português, “cri” lembra a palavra “cricri” que, segundo o mesmo dicionário, significa “aquele que é insuportavelmente maçante, que só fala de coisas sem nenhum interesse para seus circunstantes”. De fato, para nós, praticantes, é “insuportavelmente maçante” ouvir falar em reuniões onde não se fala sobre Yoga, mas sobre política, dinheiro e poder. Nenhum desses dois significados parece suficientemente auspicioso para a instituição que está nascendo.
Yoga: tê-lo ou merecê-lo?
Parafraseando Luís de Camões, podemos dizer sobre o Yoga que melhor é merecê-lo sem o ter, do que possuí-lo sem o merecer. O Yoga não é um bem, nem um serviço. Não é algo que alguém possa possuir. Ninguém pode-se declarar proprietário do Yoga. Esta seria, no mínimo, uma visão incompleta, limitante e indigna do Yoga.
O Yoga na Índia subsiste até hoje sem CRI/CRYs de nenhum tipo, e o Yoga da Índia vai muito bem, obrigado. Já pensou se houvesse uma instituição assim na Índia para fiscalizar os ashrams, as comunidades onde o Yoga é praticado há milênios? Já pensou na fiscalização do CRY batendo na porta dos ashrams de Satyananda, Sivananda, Aurobindo ou Dayananda? Esses fiscais iriam fiscalizar o quê? Se Yoga é transformação da consciência habitual em consciência divina, ficaremos mais perto disso sindicalizando-nos ou submetendo-nos à fiscalização de um Conselho Regional?
O Yoga não é apenas um grupo de “profissionais” tentando viver de dar aulas. Claro que há pessoas que conseguem seu sustento trabalhando com Yoga. É uma consequência natural de sua dedicação, do trabalho e do esforço de cada um. Mas Yoga não é somente isso. Yoga é uma disciplina que pode desvelar a essência humana. Ele existe para nos mostrar quem somos, para nos ajudar a viver e evoluir nesta vida. Está, portanto, mais vinculado com a arte de ser, com a autodescoberta, a transcendência dos condicionamentos e a iluminação, do que com questões burocráticas ou econômicas. Esperamos que continue sendo assim.
Regulamentação impossível
Regulamentar sem definir o que é, onde começa e onde termina o Yoga é algo impossível, inútil e sem sentido (a menos que o verdadeiro sentido do projeto de regulamentação não seja cuidar do Yoga em si). Reduzir e colocar o Yoga a fórceps numa definição acadêmica é ainda mais do que inútil.
Em que unidade será medido, como será julgado (e por quem) o Yoga que cada um ensina? Acreditamos que, para julgar, é preciso conhecer a fundo, ponderar após haver compreendido em toda sua profundidade e complexidade esse assunto tão vasto que é o Yoga em todas as suas ramificações. Os fiscais, então, precisam ser verdadeiros iluminados para não cometerem injustiças nessa sua fiscalização do conteúdo dos ensinamentos.
Não há até hoje consenso sobre o que deveria ser ensinado numa aula de Yoga. Há professores que ensinam que o vegetarianismo e a abstenção de álcool são absolutamente essenciais para obter-se sucesso na prática, enquanto que outros não se importam em comer peixe ou beber vinho. Certos professores dizem que os asanas são fundamentais, enquanto outros afirmam que as práticas físicas são uma arapuca para o ego e devem, portanto, ser evitadas.
No entanto, como os Conselhos Regionais de Yoga precisam delimitar e definir o que é o Yoga para poder fiscalizá-lo, é inevitável que muitas das riquezas de técnicas ou das interpretações do Yoga fiquem de fora de uma definição que caiba num texto. Lembremos que o Yoga é uma experiência trans mental e que, como tal, é impossível ser definida com palavras. É impossível colocar o Yoga numa camisa de força sem danificá-lo irremediavelmente.
Fiscalização de qualidade impossível
Como poderíamos imaginar a fiscalização que visa afastar charlatães? Visitarão nossos fiscais os templos de Bhakti Yoga para verificar se os mantras estão sendo bem pronunciados? Multarão os devotos distraídos ou desafinados? Verificarão se os karma yogis não estão realizando suas tarefas com intento de sentir uma pequena gratificação pessoal egóica? Visitarão as escolas de Yoga para fiscalizar se os alunos de Swásthya Yôga estão com o devido sorriso nas suas coreografias, se o professor de Power Yoga ensina os praticantes a nunca flexionar os joelhos além do ponto desejável, se os alunos de Ashtanga Vinyasa Yoga não estão ficando vesgos demais ao fazerem os drishtis? E quem fiscalizará a observação dos yamas e niyamas, a não-violência, a veracidade, o desapego, a entrega a Ishvara, para nem falar de elementos ainda menos verificáveis, como a meditação?
Como alguém poderia julgar a prática ou os ensinamentos dos demais de forma justa e isenta? Se o nosso fiscal for um yogi ativo, seguirá sua própria tradição de Yoga a qual ele adotou por certas razões e terá imensa dificuldade em não favorecer os professores dessa abordagem. Brigas terríveis entre os diferentes grupos seriam a consequência dessas diferenças “ideológicas”.
Sempre em nome da pureza do Yoga, da paz interior e do Dharma travaremos novas guerras religiosas, ainda mais agravadas pelo fato de que do resultado delas dependerá a existência profissional. Porém, se o fiscal não for da área, terá ainda muito menos conhecimento necessário para atuar corretamente.
Talvez, no entanto, a única função do fiscal do Conselho Regional de Yoga seja fiscalizar se todos nós estamos pagando em dia as anuidades aos Conselhos Regionais dos nossos estados. De fato, nenhuma qualificação é necessária para executar-se essa tarefa, além de saber contar dinheiro e ler recibos. Se a única função do fiscal do Conselho Regional de Yoga for fiscalizar se estamos pagando pontualmente a uma instituição política e burocrática, qual é, então, o propósito da existência dessa instituição? Ficar com o dinheiro dos demais ou zelar pela qualidade do ensinamento do Yoga? Mas o assunto não se esgota aqui.
O futuro do Yoga nas mãos de empresas particulares
Outra dúvida que fica em relação aos Conselhos Regionais de Yoga está vinculada com a questão de quem estará apto para ensinar àqueles que queiram ensinar Yoga, uma vez que, para existir uma regulamentação profissional, os Conselhos Regionais e Federais, precisa haver um Curso Superior onde esses profissionais sejam formados.
Para que o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Yoga existam (que aliás, não são instituições do governo, e sim empresas normais para as quais o governo delega essas funções), é preciso ter a aprovação de um Curso de Pós-Graduação em Yoga de dois anos pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Isso significa que, uma vez aprovado esse curso, os únicos autorizados a exercerem a “profissão” de ensinar aos demais a dar aulas de Yoga serão aqueles que já tiverem feito um curso aprovado pelo MEC.
Já existe em andamento um exemplo desses cursos, numa universidade particular do Rio de Janeiro. O custo é de R$ 264,00 por mês, para ter um aulão mensal (das 8 às 13h10), durante 21 meses (com recesso nos meses de julho, dezembro e janeiro). Isso significa uma despesa de R$ 5.594,00 para aqueles que, já sendo formados em outro curso universitário, em 21 sessões, sejam autorizados a “formar”, por sua vez, professores de Yoga, com direito de exclusividade e reserva de mercado. É por isso que o preço pode ser tão alto.
Com todo o respeito pelos ministrantes desse curso, de quem sabemos serem muito bem intencionados, essa abordagem lembra bastante o método dos “Cursos de Nivelamento” vendidos por empresas ligadas aos Conselhos Regionais de Educação Física. Da mesma forma, algumas das lideranças do Yoga que estão tocando o projeto em frente estão atrás de poder, dinheiro, autopromoção e controle dos demais. Outras lideranças guardam boas intenções, mas parecem desorientadas e estão indo no vácuo dos que fazem mais barulho, enviando mais e-mails ou gastando mais dinheiro com telefonemas. Sem dúvida alguma, a solução de entregar o Yoga a empresas com fins de lucro (e totalmente alheias à filosofia dessa disciplina) necessariamente elitizará o ensino do Yoga, colocando-o fora do alcance de muitos, pois sabemos todos que a possibilidade de ser aberto um Curso de Graduação em Yoga numa universidade pública é muito reduzida.
Ao mesmo tempo, a proposta confia no aumento do nível de qualidade do ensino de Yoga justamente por entidades que comprovadamente nem sempre têm tanto compromisso com a qualidade do ensino (muito menos com os valores centrais do Yoga), a saber, as empresas particulares do ramo da educação. Sendo empresas precisam, em primeiro lugar, garantir a geração de um superávit financeiro.
Como acontece em outras áreas nas universidades particulares (por exemplo, na Acupuntura), esses novos cursos de Yoga, em média, não serão os lugares onde encontraremos os professores mais qualificados. Para começar, isso se deve ao fato de que muitas universidades particulares não conseguem remunerar bem o professor – pela lei do mercado, precisam comprar a matéria prima a um preço bem abaixo daquele que obtêm ao comercializar o produto final, para cobrir o custo da instituição.
Precisaremos, então, como agora, procurar o verdadeiro conhecimento do Yoga onde ele está, ou seja, com os mestres indianos, ou alunos deles espalhados pelo mundo que, ao longo dos anos, adquiriram a capacidade de passar ao menos uma parte desse conhecimento para nós. É remota a possibilidade de que essas pessoas façam parte do corpo docente dos novos cursos de (Pós-)Graduação em Yoga.
Reparemos no detalhe: apesar disso, a partir do momento em que essa lei for aprovada, a futura geração de professores de Yoga terá que frequentar uma faculdade particular, prestar vestibular, assistir aulas de Yoga num ambiente que nada tem a ver com o ensino de Yoga. A relação tradicional de transmissão de Yoga de mestre para discípulo, chamada parampara, e as escolas, chamadas gurukulas, serão burocratizadas e determinadas por pessoas que, em sua maioria, não compartilham os ideais dessa cultura milenar e tratarão o Yoga como qualquer outra profissão da área de saúde ou medicina, ou, pior ainda, apenas como mais uma maneira de ganhar dinheiro.
Conclusão
Do acima exposto, concluímos que os males que a Regulamentação trará serão muito provavelmente piores do que aqueles que ela pretende resolver.
Por isso, deixem o Yoga em paz! Deixem o Yoga continuar livre e eterno! O Yoga não precisa de camisa de força, nem de cartolas, nem de cartéis! O Yoga não serve para alimentar burocratas! Confinada nesse quadro, a essência do Yoga corre o sério risco de morrer!
Lembremos a máxima do Mahabharata: “Quando o Dharma é protegido, protege. Quando é destruído, destrói“.
- Originalmente publicado em 27 de maio de 2002. [↩]
Olá! Meu nome é Tomás Prado de Moraes, sou professor de Hatha Yoga há 9 anos e dou total apoio à iniciativa de vocês de acabar com essa história de “regulamentação” dentro do Yoga. Tenho acompanhando regularmente tudo isso e sei muito bem dos interesses políticos e econômicos envolvidos nessa situação.
Estou me disponibilizando a lutar a favor de vocês para que tal “regulamentação” (mas que papo furado, não?) não se realize. O Yoga deveria ser tocado por aqueles que o amam. Os charlatães já estão cavando sua própria cova (e funda) e não é necessário regulamentação para tirá-los do mercado. O próprio Dharma os expulsará.
Muitíssimo grato, Tomás, pelo teu apoio e por esse teu tão rico e esclarecedor comentário.
Minha total iniciativa de ajuda contra essas pessoas que querem controlar o incontrolável: a busca natural do ser humano pela transcendência. É uma vergonha que tenha partido (todos sabemos de quem) de uma pessoa que se diz “mestre” e que vem mentindo, manipulando e deixando bem claras as suas intenções em relação ao público jovem que frequenta seus estabelecimentos. E onde ficam os nossos velhinhos de terceira idade, meu público adorável e fiel?… Essas pessoas não querem escolher um estabelecimento cheio de certificados pendurados na parede concedidos por órgãos públicos – para isso procurariam os psicanalistas. Meus clientes procuram transcender e não se apegar…
Muitíssimo grato pela tua ajuda e por esse teu excelente comentário, Michele!
Deixem o Yoga em paz. Regulamentação só visa interesses econômicos e reserva de mercado, como foi dito. O Yoga não precisa disso. Sobrevive há milênios sem regulamentação. Regulamentação é um lobby bem colocado que resolve apenas os problemas de poucos.
Muitíssimo grato por esse teu comentário, amiga Elaine!
Liberdade para o Yoga. O Yoga está cada dia mais popular no Brasil, e, por essa razão, vem preocupando e interessando aqueles que desconhecem seus ensinamentos. Impossível fiscalizar aquilo que poucos conhecem verdadeiramente. Teríamos que primeiro qualificar os fiscalizadores, colocá-los praticando no mat durante anos, e, então, mesmo assim, repensaríamos juntos se a regulamentação é mesmo necessária. Como foi dito, até hoje o Yoga caminha perfeitamente na Índia e em outros lugares sem regras ou titulações obrigatórias. Por que aqui seria diferente? Para mim fica claro que os interesses estão além da melhoria na qualidade de ensino, o que é uma questão apenas de escolher o professor certo, já que existem inúmeras escolas sérias e qualificadas no Brasil. O objetivo dessa regulamentação possivelmente está ligado ao controle das “contribuições financeiras” que esses profissionais seriam obrigados a pagar. Dedicar-se verdadeiramente ao Yoga é um caminho longo de conhecimento e autoconhecimento, que exige esforço e dedicação. Portanto, obrigar um professor de Yoga a cursar uma pós-graduação regulamentada pelo MEC não irá garantir a formação de um bom profissional. Deixem o Yoga seguir seu caminho em paz. E para os profissionais de outras áreas que estão preocupados com a regulamentação, sugiro que se preocupem mais em se dedicar a profissão que escolheram a fim de oferecer um trabalho de qualidade. Existe espaço para todos!
Namaste.
Muitíssimo grato por esse teu excelente comentário, Fernanda! Namaste!
Namaste!
Como querer deter o Yoga e outras artes, como o Tai Chi, Dança etc, a uma rédea que pretenda cercear uma força milenar sem precedente que vem de mestre a discípulo sucessivamente até os dias de hoje? Vã ilusão daqueles que querem “regulamentar a profissão do profissional de Yoga”, indo contra essa força incomensurável que é o Yoga. Mesmo nesta Kaliyuga nada poderá contra a essência do ensinamento do bem, seja através de qual veículo for. Homens correm por detrás das suas “sombras” em busca da Luz. Equivocados, buscam soluções onde tudo já foi resolvido. O Yoga é uma resolução divina.
Os chineses invadiram o Tibet com o vã intuito de destruir a cultura milenar do povo tibetano, destruindo os templos budistas, queimando as escrituras, fuzilando monges, expulsando o Dalai-Lama… Vã tentativa! O que na realidade fizeram foi levar ao mundo inteiro o conhecimento do Budismo Tibetano, tornando o Dalai Lama conhecido mundialmente pelas pessoas nos lugares mais distantes do planeta. Foi o tiro dos chineses que saiu pela culatra. Assim, aquele ou aqueles que pensarem supor que podem controlar, deter, fiscalizar, julgar e/ou comparar essa força extraordinária que atua há milhares de anos, e que sabemos estar muito além dos anos que medimos e da terra em que pisamos, nada mais farão que reforçá-la, e sabemos que a custa de muito sofrimento para si e para outrem, mas assim aprendem esses homens. O Yoga não pode ser confinado a nenhuma marca, sala de Universidade, empresa particular, pessoa ou grupo de pessoas. O Yoga está no todo, e, assim, como compartimentar o Todo? O Yoga é para todos! Convidemos, pois, a comunidade yogika brasileira a uma reflexão.
Há uma mentalização envolvendo de luz e de brilho o Yoga no Brasil e que preenche a mente dos homens com esse brilho e essa luz, dissipando as trevas de nossos corações aflitos, para que então possamos sentar e meditar de fato longe das preocupações e medos, sabendo que “o que é necessário já está sendo feito”.
Liberdade para aqueles que queiram graduar-se, pós graduar-se, fazer Formação, Especialização, seja lá o que for, em Yoga, e liberdade também àqueles que não queiram fazer nada disso. Que nada seja imposto como algo obrigatório no Yoga, pois a natureza do Yoga é a própria Natureza. O Yoga já tem seus Yamas e Niyamas. As escrituras milenares são seu grande código de ética e conduta. Não é preciso mais!
Namaste!
Muitíssimo grato por esse teu tão rico comentário, amigo Nello! Namaste!
Olá! É interessante observar que esse Manifesto foi publicado em maio de 2002. Portanto, sete anos atrás. Ele foi postado aqui neste Blog há pouco tempo, nos últimos meses. Eu lembro vagamente desse movimento contra os CREFs e interferência indevida dos mesmos na atividade de ensino de Yoga no Brasil, anos atrás. E, se minha memória não me falha, esse caso já foi resolvido. O Yoga não esteve sozinho nessa luta contra tal interferência indevida. Aliás, o próprio Manifesto explica que era intenção que os CREFs atuassem fiscalizando e cobrando das atividades físicas mais diversas, como capoeira etc. Bem, vou pesquisar um pouco para saber se houve alguma novidade neste caso, algum novo movimento além daquele desfecho que, se não me engano, aconteceu alguns anos atrás.
Olá, Mahesh! Muitíssimo grato por esse teu rico e esclarecedor comentário aqui.
Boa tarde! Li esse Manifesto e estou completamente a favor de vocês, ou melhor, a favor de nós todos. Não sou muito boa com as palavras, mas o que se encontra escrito aqui é exatamente o meu sentimento posto em palavras. Sou Instrutora aqui no Rio de Janeiro e pude sentir cada palavra. Grata pela informação. Namaste.
Muitíssimo grato pelo teu apoio, Cris! E não há de quê por essa informação. Namaste!
Gostaria de me solidarizar com vocês. Sou a favor do Yoga livre. Não devemos nos prender e limitarmos a esquemas preconcebidos e formais do ensinamento do Yoga. Fizemos um Manifesto alguns anos atrás, em prol do Yoga livre, encaminhado ao Congresso Nacional. Somos do Recife e fazemos parte do Colegiado Internacional do Yoga. Parabéns por essa matéria. Grata.
Muitíssimo grato pela tua solidariedade, Maria da Graça!
Fantástico. Com minha experiência de 4 anos consecutivos de vivência de Yoga na Índia, apoio totalmente esse Manifesto e parabenizo a iniciativa desses professores que zelam pela dignidade do Yoga no Brasil. O Despertar da Consciência só pode ser fiscalizado pelo Divino, e não pelo humano.
Muitíssimo grato pelo teu apoio, amiga Juliana!
Sou solidária a esse Manifesto por ter passado por algo parecido. No ano passado, lojas de produtos naturais do Centro de Fortaleza que não tinham um farmacêutico sofreram uma fiscalização, onde foram apreendidos diversos produtos que julgávamos poder vender sem a presença desse profissional. A verdade é que toda a nossa experiência trabalhando com esses produtos há vários anos não significou nada e tivemos um enorme prejuízo. Sou praticante de Tai Chi Chuan e meu marido pratica Yoga.
Muitíssimo grato pela tua solidariedade e por esse teu comentário, Valéria!
Prezados senhores,
Pratico e estudo Yoga há seis anos, dos quais três com minha amada mestra, que me apresentou o Hatha Yoga, e mais um ano com meu amado mestre, que me apresentou o Raja Yoga, e, a partir daí, realizo minhas práticas diárias orientado pelos ensinamentos recebidos pessoalmente e pelos estudos aos quais fui orientado por essas singulares figuras. Quero ressaltar que em nenhum momento me ocorreu solicitar “diplomas”, “certificados” ou “alvarás” a meus mestres, que sempre pautaram seus ensinamentos dentro dos tradicionais princípios éticos e filosóficos do Yoga, e os resultados físicos, mentais e espirituais que obtive de tais ensinamentos valem, para mim, mais do que quaisquer “regulamentações” ou “classificações” acadêmicas que possam ser formuladas por burocratas que não têm a mínima idéia da dimensão dos ensinamentos yogikos. E, da mesma forma, testemunhei outras pessoas que transformaram suas vidas pessoais em um processo contínuo de evolução. Cônscio de que sou apenas um aspirante a aluno, posso asseverar que minha vida divide-se em antes e depois da Yoga. Portanto, sou favorável e defendo a transmissão dos ensinamentos “aos pés do mestre”, da maneira tradicional, e sugiro que esse Manifesto acima apresentado seja aberto para assinatura de todos os que com ele concordarem, para que se tenha um poderoso instrumento de pressão que venha a “desmantelar” essa absurda proposta.
Namaste, Brilmar Fernando.
Muitíssimo grato por esse teu tão rico comentário, Brilmar, bem como pelo teu apoio a esse Manifesto. Namaste!
Muito boa essa manifestação.
Mesmo sendo leiga, por não alcançar (ainda) a enormidade de conhecimentos do Yoga, o contato inicial que tive com a prática levou-me a perceber que cuida de ensinamentos que transcendem ao infinito, transcendem o mero saber lapidado por dogmas e conceitos. É experimental. E, como tudo que é experimental, depende daquele que se dispõe a experimentar, sendo impossível qualquer tentativa de fiscalização. Parecem-me condutas incompatíveis.
Por essa razão, venho fazer coro, não por achar inadmissível qualquer tipo de regulamentação, mas pelo simples fato de entender o Yoga como algo que prescinde de amarras pra sobreviver. Nada melhor que o próprio mercado para nivelar os profissionais desse ramo onde, como dito no manifesto, subsistem aqueles que se dedicam com afinco e amor ao que acreditam.
Que bom que você gostou desse Manifesto, Elaine, bem como por fazer coro com ele.
Quero dar meu total apoio a essa iniciativa. É um quadro preocupante e que precisamos analisar com cuidado, pois poucos professores de Yoga estão a par de tudo que está ocorrendo. Eu me incluo nesse grupo. Gostaria de perguntar aos amigos que medidas práticas poderiam ser tomadas pelos yogins em favor do Yoga?
Muitíssimo grato pelo teu apoio, Gabriel!