Yoga e qualidade de vida
Marcos Rojo (1)
Temos sido bombardeados por uma série de conceitos que acabam perdendo seu sentido principal. Li num jornal: “a casa foi roubada holisticamente”. Numa referência de a terem roubado por inteiro, ou seja, tudo. Assim como o termo “holístico”, podemos dizer que a expressão “qualidade de vida” se desgastou. Tudo virou motivo para se falar em qualidade de vida. Seu significado virou sinônimo de vida com equilíbrio entre trabalho e descanso, dieta balanceada, exercícios, pouco tempo no trânsito e um pouco de meditação.
Contudo, tenho observado que, na prática, é quase impossível, principalmente para aqueles menos favorecidos financeiramente, ter realmente qualidade de vida. Eles não têm como ficar menos no trânsito. Exercícios físicos, só se for nos momentos de faxina. A alimentação é marmita. E meditação? Nem pensar. Por outro lado, também percebo que muitos dos que conseguem adquirir hábitos saudáveis também não estão garantidos com a tal da qualidade de vida. Tenho visto empresários que praticam exercícios, mas que andam estressados. Pessoas que não têm problemas com dinheiro, mas que andam nos consultórios fazendo terapias.
Diante desse quadro, penso que é importante refletir um pouco sobre o termo “qualidade de vida”. Para isso, remeto-me aos textos clássicos indianos. É próprio das Upanishads jogar com as palavras, provocando um repensar do seu sentido. Referindo-se a Deus, uma determinada Upanishad diz: “quem pensa que O conhece não O conhece, porque não é conhecido por aqueles que O conhecem”. Ou: “tirando-se o Todo do Todo, o Todo permanece”. Assim, acho oportuno trocar a ordem das palavras para clarear o sentido. Vejo muito mais sentido no termo “vida com qualidade” do que “qualidade de vida”.
Quem é que dá qualidade à sua vida? É aí que entre o Yoga. Como um sistema de filosofia, o Yoga tenta justificar questões. Coisas do tipo: o que estamos fazendo aqui? De onde viemos e para onde vamos? Erram aqueles que entendem Yoga como uma prática de exercícios lentos e respiratórios. O Yoga nunca foi tão atual e tão necessário. A nossa sociedade tem dificuldade em entender o corpo como um meio para aquisição de experiências nobres no caminho espiritual. Afinal, para nós que reverenciamos as aparências, fica difícil entender que o “como” se faz um exercício é mais o importante do que o “quanto” ou mesmo o “o quê”. Na vida com qualidade, vamos percebendo que as respostas são modificáveis. Se qualidade de vida está mais relacionada com o “fazer o que se gosta”, pense que vida com qualidade está mais relacionada com o “gostar do que se faz”. E eu também dou minha preciosa contribuição para isso, que é próprio do humano: uma vida com poucas necessidades e com muita integração.
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Contudo, tenho observado que, na prática, é quase impossível, principalmente para aqueles menos favorecidos financeiramente, ter realmente qualidade de vida. Eles não têm como ficar menos no trânsito. Exercícios físicos, só se for nos momentos de faxina. A alimentação é marmita. E meditação? Nem pensar. Por outro lado, também percebo que muitos dos que conseguem adquirir hábitos saudáveis também não estão garantidos com a tal da qualidade de vida. Tenho visto empresários que praticam exercícios, mas que andam estressados. Pessoas que não têm problemas com dinheiro, mas que andam nos consultórios fazendo terapias.
Diante desse quadro, penso que é importante refletir um pouco sobre o termo “qualidade de vida”. Para isso, remeto-me aos textos clássicos indianos. É próprio das Upanishads jogar com as palavras, provocando um repensar do seu sentido. Referindo-se a Deus, uma determinada Upanishad diz: “quem pensa que O conhece não O conhece, porque não é conhecido por aqueles que O conhecem”. Ou: “tirando-se o Todo do Todo, o Todo permanece”. Assim, acho oportuno trocar a ordem das palavras para clarear o sentido. Vejo muito mais sentido no termo “vida com qualidade” do que “qualidade de vida”.
Quem é que dá qualidade à sua vida? É aí que entre o Yoga. Como um sistema de filosofia, o Yoga tenta justificar questões. Coisas do tipo: o que estamos fazendo aqui? De onde viemos e para onde vamos? Erram aqueles que entendem Yoga como uma prática de exercícios lentos e respiratórios. O Yoga nunca foi tão atual e tão necessário. A nossa sociedade tem dificuldade em entender o corpo como um meio para aquisição de experiências nobres no caminho espiritual. Afinal, para nós que reverenciamos as aparências, fica difícil entender que o “como” se faz um exercício é mais o importante do que o “quanto” ou mesmo o “o quê”. Na vida com qualidade, vamos percebendo que as respostas são modificáveis. Se qualidade de vida está mais relacionada com o “fazer o que se gosta”, pense que vida com qualidade está mais relacionada com o “gostar do que se faz”. E eu também dou minha preciosa contribuição para isso, que é próprio do humano: uma vida com poucas necessidades e com muita integração.
- Artigo originalmente publicado na edição número 7, ano 2, de novembro de 2005, da revista Vida & Yoga, da Editora On Line, digitado por Cristiano Bezerra em 16 de dezembro de 2005 e também publicado em yoga.pro.br. Visite o site do Marcos em marcosrojo.com.br [↩]
Gratidão por postarem novamente esse texto! Texto de 2005 que, pra mim, faz o maior sentido em 2019!
Não há de que, Patricia! A gratidão é toda nossa!
Adorei! O tema é muito vasto e significativo, e, ao meu ver, qualidade de vida se relaciona com o fazer o que se gosta sem se preocupar com o retorno. Enfim, esse assunto levaria dias… Muito bom!
Que bom que você gostou, Cheila! Fico muito feliz em saber e muitíssimo grato por esse teu feedback e rico comentário aqui.