Qual é o futuro do Yoga?
1)
O desenvolvimento tecnológico moderno, crescente e ilimitado, nos põe face a face com o poder humano frente ao domínio da natureza. Somos cada vez mais senhores das comunicações à distância, das conquistas espaciais, do aproveitamento racional do tempo, da juventude prolongada e da morte adiada. Parece que nossa ambição de conquistas tecnológicas desconhece qualquer limite. Temos a nosso favor todos os frutos desse desenvolvimento. Podemos nos comunicar com pessoas de todas as partes e de diferentes culturas do mundo, e ter acesso a qualquer tipo de conhecimento através da internet. Temos uma indústria farmacêutica gigante que alivia nosso sofrimento físico e que promete aliviar também o nosso sofrimento psíquico. Suplementos alimentares garantem um equilíbrio nutricional perfeito para o funcionamento do nosso organismo. As intervenções médicas são cada vez mais especializadas e a busca pela cura de doenças, antes fatais, nos dão esperança do prolongamento da nossa existência.
O Ocidente é mestre no desenvolvimento de tudo aquilo que tende a facilitar a vida humana e economizar o tempo, tornando-o mais produtivo. Ou seja, busca-se mais resultado do trabalho com menos esforço e tempo. E assim a humanidade se desenvolve. Por que então praticar Yoga neste mundo tão rápido, pragmático e imediatista?
Talvez porque o mundo moderno seja o mundo das contradições. A depressão é o mal do século que, ironicamente, convive lado a lado com uma intensa e extravagante indústria do entretenimento e do lazer, movida pela busca incessante de um eterno estado de euforia. A pergunta é: “por que não estamos felizes?”. Se dependêssemos apenas de pílulas para garantir nossa felicidade, estaríamos plenamente satisfeitos, pois o “trio maravilha”, ou seja, Prozac, Viagra e Xenical, nos aliviariam das dores da alma, das dificuldades sexuais e nos garantiria o corpo de modelo, tão sonhado e arduamente almejado pela maioria dos pobres mortais.
Diz o velho ditado que, se não encontramos nosso caminho (nosso sadhana) pelo amor, o encontramos pela dor. O “trio maravilha”, ou a “santíssima trindade” da modernidade, parece que realmente não está dando conta do recado. Parece que existe algo mais que a eterna busca pelo dinheiro, pelos bens materiais, pelo status profissional, pelo corpo perfeito, pelos prazeres dos sentidos e pela juventude infinita.
Estamos em Kali Yuga, era do declínio espiritual. Enquanto a ciência avança a passos largos em todas as esferas do saber humano, o sofrimento psíquico, ou, podemos pensar, o sofrimento da alma, se aprofunda, e nos sinaliza que as aflições humanas não são sanadas com conquistas externas. O desenvolvimento tecnológico e econômico certamente é vital para sobrevivência da humanidade, sobretudo na garantia de condições que possibilitem a existência humana com dignidade e com usufruto total de suas potencialidades na vida terrena. No entanto, os exageros do mundo moderno tendem a nos afastar de nós mesmos. Yoga busca a nossa evolução enquanto seres humanos. O desenvolvimento externo de nada adianta se não é acompanhado pelo desenvolvimento interno. Yoga, após milênios de existência, adentrou no universo ocidental, e tem, cada vez mais, praticantes e estudiosos entusiasmados com as descobertas interiores desse caminho. A vida moderna parece desumanizar o ser humano, através de relações sociais utilitárias e mecanizadas, permeadas por interesse e pragmatismo. Banalizamos o cotidiano e estamos retirando todos os rituais que os antigos praticavam em respeito à sacralidade da vida. Yoga nos propõe um mergulho em nós mesmos, em busca da nossa essência espiritual, que nos leva a reconhecer no outro a existência dessa mesma essência que nos sustenta. O futuro do Yoga é desafiante, pois trilhar o caminho do autoconhecimento em um mundo cada vez mais voltado para o auto-desconhecimento pressupõe muito esforço pessoal para manter-se em pé frente às turbulências de Kali Yuga. Estamos diante de um desafio, que nos instiga a harmonizar o progressivo desenvolvimento externo que nos circunda, através dos ganhos e das dificuldades que isso tudo gera, com o nosso crescimento interno, que pressupõe um caminho de interioridade, um recolhimento dos sentidos.
» por Subhashni Arora (O desenvolvimento tecnológico moderno, crescente e ilimitado, nos põe face a face com o poder humano frente ao domínio da natureza. Somos cada vez mais senhores das comunicações à distância, das conquistas espaciais, do aproveitamento racional do tempo, da juventude prolongada e da morte adiada. Parece que nossa ambição de conquistas tecnológicas desconhece qualquer limite. Temos a nosso favor todos os frutos desse desenvolvimento. Podemos nos comunicar com pessoas de todas as partes e de diferentes culturas do mundo, e ter acesso a qualquer tipo de conhecimento através da internet. Temos uma indústria farmacêutica gigante que alivia nosso sofrimento físico e que promete aliviar também o nosso sofrimento psíquico. Suplementos alimentares garantem um equilíbrio nutricional perfeito para o funcionamento do nosso organismo. As intervenções médicas são cada vez mais especializadas e a busca pela cura de doenças, antes fatais, nos dão esperança do prolongamento da nossa existência.
O Ocidente é mestre no desenvolvimento de tudo aquilo que tende a facilitar a vida humana e economizar o tempo, tornando-o mais produtivo. Ou seja, busca-se mais resultado do trabalho com menos esforço e tempo. E assim a humanidade se desenvolve. Por que então praticar Yoga neste mundo tão rápido, pragmático e imediatista?
Talvez porque o mundo moderno seja o mundo das contradições. A depressão é o mal do século que, ironicamente, convive lado a lado com uma intensa e extravagante indústria do entretenimento e do lazer, movida pela busca incessante de um eterno estado de euforia. A pergunta é: “por que não estamos felizes?”. Se dependêssemos apenas de pílulas para garantir nossa felicidade, estaríamos plenamente satisfeitos, pois o “trio maravilha”, ou seja, Prozac, Viagra e Xenical, nos aliviariam das dores da alma, das dificuldades sexuais e nos garantiria o corpo de modelo, tão sonhado e arduamente almejado pela maioria dos pobres mortais.
Diz o velho ditado que, se não encontramos nosso caminho (nosso sadhana) pelo amor, o encontramos pela dor. O “trio maravilha”, ou a “santíssima trindade” da modernidade, parece que realmente não está dando conta do recado. Parece que existe algo mais que a eterna busca pelo dinheiro, pelos bens materiais, pelo status profissional, pelo corpo perfeito, pelos prazeres dos sentidos e pela juventude infinita.
Estamos em Kali Yuga, era do declínio espiritual. Enquanto a ciência avança a passos largos em todas as esferas do saber humano, o sofrimento psíquico, ou, podemos pensar, o sofrimento da alma, se aprofunda, e nos sinaliza que as aflições humanas não são sanadas com conquistas externas. O desenvolvimento tecnológico e econômico certamente é vital para sobrevivência da humanidade, sobretudo na garantia de condições que possibilitem a existência humana com dignidade e com usufruto total de suas potencialidades na vida terrena. No entanto, os exageros do mundo moderno tendem a nos afastar de nós mesmos. Yoga busca a nossa evolução enquanto seres humanos. O desenvolvimento externo de nada adianta se não é acompanhado pelo desenvolvimento interno. Yoga, após milênios de existência, adentrou no universo ocidental, e tem, cada vez mais, praticantes e estudiosos entusiasmados com as descobertas interiores desse caminho. A vida moderna parece desumanizar o ser humano, através de relações sociais utilitárias e mecanizadas, permeadas por interesse e pragmatismo. Banalizamos o cotidiano e estamos retirando todos os rituais que os antigos praticavam em respeito à sacralidade da vida. Yoga nos propõe um mergulho em nós mesmos, em busca da nossa essência espiritual, que nos leva a reconhecer no outro a existência dessa mesma essência que nos sustenta. O futuro do Yoga é desafiante, pois trilhar o caminho do autoconhecimento em um mundo cada vez mais voltado para o auto-desconhecimento pressupõe muito esforço pessoal para manter-se em pé frente às turbulências de Kali Yuga. Estamos diante de um desafio, que nos instiga a harmonizar o progressivo desenvolvimento externo que nos circunda, através dos ganhos e das dificuldades que isso tudo gera, com o nosso crescimento interno, que pressupõe um caminho de interioridade, um recolhimento dos sentidos.
- Artigo também publicado em 2 de novembro de 2005 em yoga.pro.br. Visite os perfis da Subhashni no Instagram em instagram.com/psicologasubhaarora e em instagram.com/espacovivekananda e no Facebook em facebook.com/subhashni.arora e em facebook.com/espacovivekananda [↩]
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