Meditando sobre os chakras

Os chakras e o corpo denso
O Yoga vê o homem como um reflexo do macrocosmos. A energia criadora que engendra o Universo manifesta-se no homem, que não está separado nem é diferente dela. O nome dessa energia é kundalini. A nossa consciência individual é apenas uma das suas dimensões, pois energia e consciência não são coisas separadas. A ciência concorda com o Yoga em que o universo é um verdadeiro mar de energia. Eles diferem, entretanto, quanto ao significado dessa constatação. O Yoga diz que ela possui implicações pessoais profundas. Se a matéria é de fato vibração, então o corpo humano, que faz parte do mundo material, também está feito de energia. Consciência e energia estão intimamente ligadas, sendo dois aspectos da mesma realidade.
O corpo humano não é apenas matéria inconsciente ou uma carcaça habitada por uma alma etérica, mas uma realidade vibratória animada pela mesma consciência que anima a própria mente. Por isso, deveríamos deixar de vê-lo como algo diferente do nosso ser “invisível”. Pense no seu corpo como um receptáculo de energia cósmica, um aglomerado de átomos conscientes, construído à imagem do macrocosmos. A consciência vibra em cada uma das suas células, o prana está presente em todos seus tecidos. Quando corpo e mente se unem, a consciência do corpo sutil começa a revelar-se.
O Yoga afirma: você é a própria existência. Toda divisão do tipo corpo-mente, carne-espírito, etc, é pura especulação. A diversidade aparece dentro da Unidade, sem separar-se dela. A existência é uma continuidade que se estende desde o princípio da Consciência (Purusha) até o aspecto mais denso da matéria. O microcosmos reflete o macrocosmos: o infinitamente grande é igual ao infinitamente pequeno. É sabido que o homem utiliza menos de dez por cento da capacidade do seu cérebro. O Yoga é um caminho para desenvolver os outros noventa por cento e penetrar em dimensões desconhecidas do nosso ser.

Kundalini Yantra
O despertar da kundalini produz um calor muito intenso. A sua ascensão através dos chakras, num processo sistemático e gradual, desenvolve poderes latentes. O processo consta de duas etapas: na primeira, o yogin procederá à saturação prânica do organismo através dos exercícios, e a segunda é o despertar em si. A técnica consiste em concentrar o prana em ida e pingala nadi, levando essa energia para o muladhara chakra. O yogi faz com que o prana chegue até onde reside a kundalini, cessando esta então de circular pelas duas nadis e concentrando-se na entrada da sushumna, que está bloqueada pelo primeiro nó, o brahmagranthi.
Transposto esse obstáculo, acontece o despertar e desenvolvem-se os fenômenos subsequentes: a ascensão pela sushumna nadi, a penetração e ativação dos centros de força e o samadhi, que acontece quando a serpente chega no sétimo chakra, chamado sahasrara, no alto da cabeça: “Um clarão intensamente abrasador brota no corpo. Kundalini adormecida, aquecida por esse abrasamento, desperta. Tal como uma serpente tocada por uma vara, ela levanta-se sibilando; como se entrasse em sua toca, introduz-se na brahma nadi (sushumna).” (Hatha Yoga Pradípika, III:67-6).
Os chakras são os centros de captação, armazenamento e distribuição de energia no corpo. Literalmente, chakra significa roda, disco ou círculo. Também recebem o nome de padmas ou lótus. Existem milhares de centros de força distribuídos pelo corpo todo, porém, para efeito da prática, nos ocuparemos apenas dos sete principais, que se encontram ao longo da coluna vertebral e na cabeça. Eles são: muladhara, svadhisthana, manipura, anahata, vishuddha, ajña e sahasrara chakra. Estão unidos entre si pelas nadis, os canais de circulação da energia, como se fossem pérolas de um colar.
A aparência desses chakras é circular, brilhante, como pequenos CDs, de quatro ou cinco dedos de largura, que giram vertiginosamente. O elemento que corresponde a cada chakra determina a sua cor. Cada um tem um bija mantra, isto é, um som semente, ao qual responde quando é devidamente estimulado. Representam-se com um número definido de pétalas, sobre as quais aparecem inscritos fonemas do alfabeto sânscrito, os bijas menores, que simbolizam as manifestações sonoras do tipo de energia de cada chakra. Dessa forma, cada fonema estimula uma pétala definida de um chakra. Esse é o motivo pelo qual o sânscrito é considerado língua sagrada: o seu potencial vibratório produz efeitos em todos os níveis.
O corpo do poder serpentino, a kundalini, está formado pelas 50 letras do alfabeto sânscrito, chamadas matrika, “mãezinhas“. Essas mãezinhas correspondem às 50 caveiras que usa a deusa Kali, a destruidora do tempo. São as matrizes sutis de todos os sons sagrados e profanos. O alfabeto é chamado “grinalda de letras“, varna mala, sugerindo o mais alto propósito dado à linguagem humana pelos sábios védicos: honrar e expressar apropriadamente a realidade transcendental.
Cada chakra tem igualmente uma deidade e uma shakti, com diferentes nomes, atributos, emblemas, etc. Isso não significa que existam no corpo sutil pequenas imagens de deusas e deuses cheios de braços e cabeças, e armados até os dentes, assim como não há neles diagramas geométricos ou animais imaginários. São símbolos das propensões e latências samskáricas associadas a cada centro. Esses símbolos falam diretamente à mente subconsciente. Não precisam ser “interpretados”. A única coisa a fazer é observar-se frente a eles, e às emoções que despertam.
Quando você visualiza, por exemplo, uma shakti carregando uma caveira cheia de sangue ou uma espada na mão, deve prestar atenção à reação que essa imagem provoca na sua consciência. Isso tem por objetivo detectar seus condicionamentos, para poder trabalhar sobre eles. Preste muita atenção a esses detalhes. Observe-se atentamente o tempo todo, porém, com mais cuidado ainda enquanto acompanha a construção mental dessa parte dos chakras. Compare essas vivências e seus resultados, e veja como elas mudam de chakra para chakra. Se em algum momento você percebe que um símbolo desses provoca uma reação como medo ou surpresa em você… atenção! Pode ser sinal de que poderá ter uma revelação sobre si próprio nos próximos minutos. Observe-se. Observe-se o tempo todo.
Entretanto, a experiência com essas imagens só pode aproveitar-se devidamente quando o praticante consegue um bom grau de auto-observação. Se você for iniciante, pule a descrição das deidades e trabalhe apenas sobre os símbolos geométricos e as cores dos tattvas, que já são por si só muito poderosos. Existe uma analogia entre os chakras e os diversos plexos do corpo físico, mas é um erro querer identificá-los com as partes da anatomia humana.

Capa do livro Yoga Prático, de Pedro Kupfer
- Texto extraído das páginas 185 a 188 da 3ª edição, de fevereiro de 2001, do livro Yoga Prático (1998), de Pedro Kupfer (1966-), e também publicado em 24 de julho de 2000 em yoga.pro.br, o site do Pedro [↩]
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