Andando no fio da navalha: o caminho do Hatha Yoga
Georg Feuerstein (1947-2012) (1)
“O corpo é a morada de Deus, ó Deusa. A psique (jiva) é o Deus Sada-Shiva. O ser humano deve deixar para trás os restos da oferenda da ignorância; deve adorar com o pensamento ‘Eu sou Ele’.”
Essa citação do Kularnava Tantra (9.41) afirma o objetivo último do Hatha Yoga, que é a realização de Deus, a iluminação, aqui e agora, num corpo divinizado ou imortal.
Muitas vezes essa realidade é expressa com o símbolo do estado de equilíbrio ou harmonia (samarasa) no corpo, no qual a energia vital, costumeiramente difusa, estabiliza-se por fim no canal central.
Essa ideia está presente no próprio termo Hatha Yoga, que se explica esotericamente como a união (Yoga) do ‘Sol’ e da ‘Lua’, a conjunção dos dois grandes princípios ou aspectos dinâmicos do corpo-mente.
A força vital (prana) polariza-se ao longo do eixo da coluna. Afirma-se que o polo dinâmico (representado por Shakti) fica na base da coluna e o polo estático (representado por Shiva), no topo da cabeça.
A obra do hatha yogin consiste em unir Shakti e Shiva. Para que aconteça esse casamento, porém, é preciso antes estabilizar a corrente alternada de força vital que anima o corpo.
Esse fluxo dinâmico (comumente chamado de hamsa) tem um polo positivo e um negativo; sobe e desce pelo lado esquerdo e o lado direito do corpo 21.600 vezes por dia (2).
A corrente positiva tem o efeito de esquentar, e a negativa, o de esfriar. No nível material, elas correspondem respectivamente aos sistemas nervosos simpático e parassimpático.
Segundo o modelo tântrico do corpo humano, o canal axial (chamado sushumna) é circundado pelas nadis ida e pingala, de forma helicoide. O ida é o conduto ou o fluxo da força lunar, à esquerda do eixo do corpo, e o pingala é o conduto ou o fluxo da força solar, à direita.
A sílaba ha na palavra hatha também representa a força solar do corpo e a sílaba tha representa a força lunar. A palavra Yoga significa a conjunção das duas, que é o estado extático de identidade entre o sujeito e o objeto.
O objetivo primeiro do Hatha Yoga é o de interceptar as correntes da esquerda e da direita e concentrar a energia bipolar no canal central, que começa no chakra da base, ou muladhara chakra, onde se diz que a kundalini permanece adormecida.
Esse esforço perseverante de redirecionar a força vital tem efeito sobre a kundalini, que fica então mobilizada.
Essa ação pode ser comparada à de um malho que golpeia repetidamente a bigorna; por isso, o sentido comum e exotérico da palavra hatha é ‘força’.
O caminho do Hatha Yoga é uma jornada de força na qual a força vital intrínseca ao corpo é usada para a transcendência do ego.
» por “O corpo é a morada de Deus, ó Deusa. A psique (jiva) é o Deus Sada-Shiva. O ser humano deve deixar para trás os restos da oferenda da ignorância; deve adorar com o pensamento ‘Eu sou Ele’.”
Essa citação do Kularnava Tantra (9.41) afirma o objetivo último do Hatha Yoga, que é a realização de Deus, a iluminação, aqui e agora, num corpo divinizado ou imortal.
Muitas vezes essa realidade é expressa com o símbolo do estado de equilíbrio ou harmonia (samarasa) no corpo, no qual a energia vital, costumeiramente difusa, estabiliza-se por fim no canal central.
Essa ideia está presente no próprio termo Hatha Yoga, que se explica esotericamente como a união (Yoga) do ‘Sol’ e da ‘Lua’, a conjunção dos dois grandes princípios ou aspectos dinâmicos do corpo-mente.
A força vital (prana) polariza-se ao longo do eixo da coluna. Afirma-se que o polo dinâmico (representado por Shakti) fica na base da coluna e o polo estático (representado por Shiva), no topo da cabeça.
A obra do hatha yogin consiste em unir Shakti e Shiva. Para que aconteça esse casamento, porém, é preciso antes estabilizar a corrente alternada de força vital que anima o corpo.
Esse fluxo dinâmico (comumente chamado de hamsa) tem um polo positivo e um negativo; sobe e desce pelo lado esquerdo e o lado direito do corpo 21.600 vezes por dia (2).
A corrente positiva tem o efeito de esquentar, e a negativa, o de esfriar. No nível material, elas correspondem respectivamente aos sistemas nervosos simpático e parassimpático.
Segundo o modelo tântrico do corpo humano, o canal axial (chamado sushumna) é circundado pelas nadis ida e pingala, de forma helicoide. O ida é o conduto ou o fluxo da força lunar, à esquerda do eixo do corpo, e o pingala é o conduto ou o fluxo da força solar, à direita.
A sílaba ha na palavra hatha também representa a força solar do corpo e a sílaba tha representa a força lunar. A palavra Yoga significa a conjunção das duas, que é o estado extático de identidade entre o sujeito e o objeto.
O objetivo primeiro do Hatha Yoga é o de interceptar as correntes da esquerda e da direita e concentrar a energia bipolar no canal central, que começa no chakra da base, ou muladhara chakra, onde se diz que a kundalini permanece adormecida.
Esse esforço perseverante de redirecionar a força vital tem efeito sobre a kundalini, que fica então mobilizada.
Essa ação pode ser comparada à de um malho que golpeia repetidamente a bigorna; por isso, o sentido comum e exotérico da palavra hatha é ‘força’.
O caminho do Hatha Yoga é uma jornada de força na qual a força vital intrínseca ao corpo é usada para a transcendência do ego.
Visite o site do Traditional Yoga Studies, um legado de Georg Feuerstein (1947-2012), em traditionalyogastudies.com
- Texto extraído das páginas 471 e 472 do livro A Tradição do Yoga (The Yoga Tradition, 1998), de Georg Feuerstein (1947-2012) [traduzido para o português por Marcelo Brandão Cipolla e publicado no Brasil em 2001 pela Editora Pensamento, São Paulo], digitado por Cristiano Bezerra (1971-) em 26 de agosto de 2001 e desde então também publicado em yoga.pro.br [↩]
- Segundo a Gheranda Samhita (5.80), o hamsa – também chamado de Gayatri mantra espontâneo – opera nas narinas, no coração e no muladhara chakra, na base da coluna. [↩]
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