A felicidade é minha natureza essencial
Como ser feliz em um mundo complicado como o nosso? A professora carioca Gloria Arieira, 47 anos (2), encontrou um caminho. Estudou na Índia por muitos anos e encontrou respostas para sua busca pessoal. Ela nos conta um pouco de sua história.
O Atma: Quando começou seu interesse pela filosofia hindu?
Gloria Arieira: Num momento de busca pessoal. Procurava nos livros e em palestras um caminho. Foi quando, em 1973 (3), conheci o Swami Chinmayananda. As palavras dele chegaram a mim com muita força: “Deus não é uma questão de fé, e sim de conhecimento“, e “a natureza essencial do indivíduo é a identificação com Deus”, por exemplo. Todos os ensinamentos dele fizeram sentido para mim. Quatro meses depois, resolvi me mudar para a Índia com meu marido e estudar Vedanta, a parte final dos Vedas, os textos sagrados hindus. Esse conhecimento, que foi passado oralmente há mais de 5 mil anos antes de Cristo, deve ser mantido inalterado. Daí a sua tradição oral. O Swami Dayananda foi o meu mestre.
O Atma: Por que você resolveu dar aulas de Vedanta?
Gloria: Eu estava vivendo há quase cinco anos na Índia. Estava totalmente adaptada e identificada com a filosofia de vida desse país. Quando pensei: por que nasci no Brasil? Deve existir alguma razão para isso. Sentia-me segura sobre o conhecimento que adquiri. Estava tudo muito claro para mim. Nesse momento, resolvi voltar. Já no Rio, fui convidada a dar palestras sobre o assunto e as aulas começaram como um processo natural.
O Atma: Qual a relação de Vedanta com meditação?
Gloria: A meditação é um instrumento para assimilação do conhecimento, o objeto de contemplação daquilo que foi estudado. Traz a sua mente de volta sem o uso da lógica e vê a verdade daquelas palavras ouvidas, os ensinamentos.
O Atma: Você medita com frequência?
Gloria: Sim. Existem várias técnicas de meditação que ensino aos meus alunos, como por exemplo: a observação do silêncio, a repetição de um mantra, etc. Mas o que é mais importante é levar uma vida meditativa, ou seja, que ela seja um processo natural durante a vida, com a atenção nos atos e nas palavras.
O Atma: O que é necessário para alguém meditar?
Gloria: O pré-requisito é querer muito, sinceramente. Dessa forma é possível praticar a meditação, pois meditar é um ato de amor. Ou existe amor ou não existe. Ninguém pode forçar alguém a amar o outro. A meditação não funciona a não ser que se deseje naturalmente. Não pode ser forçada.
O Atma: Você tem três filhos, dois deles adolescentes. Eles meditam?
Gloria: O espírito da cultura védica eles possuem: visão de Deus, orações e valores. A forma a princípio pode ser considerada estrangeira, mas sua essência, o coração, é universal, pois a religiosidade é universal.
O Atma: Qual a importância do conhecimento do Vedanta em sua vida?
Gloria: Tornou-se mais fácil lidar com o mundo. A vida passa a ser simples. Não existe expectativa no mundo. Não espero que o mundo me faça feliz. A felicidade é minha natureza essencial.
- Entrevista originalmente publicada na revista O Atma, de outubro de 2000, e digitada por Cristiano Bezerra em 15 de novembro de 2001. Visite o site do Vidya Mandir, da Professora Gloria Arieira (1953-), em vidyamandir.org.br [↩]
- Em outubro de 2000, pois nascera em 2 de julho de 1953 (Nota do Editor). [↩]
- Aos 20 anos de idade (Nota do Editor). [↩]
Comentários
A felicidade é minha natureza essencial — Nenhum comentário
HTML tags allowed in your comment: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>