Yoga e política
Tales Nunes, do Vida de Yoga (1)
O objetivo do Yoga não é político em si. Você pode alcançar o objetivo do Yoga sem sequer falar de política. Moksha pode se dar numa caverna nos Himalaias. Mas isso não quer dizer que a política não esteja no Yoga.
Quando Patañjali fala dos oito membros do Yoga, como o suporte para o reconhecimento de si mesmo, ele começa pelos valores. Não é uma moral, é uma ética muito profunda. É uma ética em favor da estética, de uma vida mais bela e mais harmônica para todos. O fundamento dessa ética é a não violência. A não violência não consiste apenas em não matar ou não agredir. É um profundo respeito por todas as formas de vida, seja ela humana, em toda a sua diversidade, ou natural, em toda a sua grandeza e delicadeza.
Pois bem, como professores de Yoga, dentro desse papel social que desempenhamos, acredito sim que é possível dar uma aula sem tocar em política, e talvez isso seja mais proveitoso em muitos casos. Podemos falar sobre corpo físico, sútil e causal, sobre os gunas, sobre Ishvara e Brahman. Mas, se, por qualquer questão, formos falar de política enquanto relações sociais, sobretudo no momento em que estamos vivendo, é impensável nos colocarmos a partir de uma neutralidade.
Muitas pessoas estão sofrendo violências, direta e indiretamente, por conta de um discurso raivoso, excludente e irracional. Usar o Yoga para dizer que não podemos nos indignar, que quem se sente indignado com o que está acontecendo “é porque está desconectado”, é, a meu ver, um discurso exageradamente blasé. É tentar simplificar algo que é muito mais complexo.
Há pessoas que estão sendo impedidas de cumprir o seu papel social, grupos que estão sob ameaça constante, cultural e existencial. Enquanto isso, como yogi, eu devo assistir tudo impassível, com olhar semicerrado, como se não me tocasse? Se não me sinto tocado por isso, certamente não farei nada a respeito, em nenhuma situação que se coloque pra mim. Sequer numa conversa em família ou mesmo quando um aluno perguntar o que eu acho.
Não digo que você precise defender ou se filiar a partido algum ou que deva mudar de trabalho para militar em alguma causa, ou que tenha que brigar com familiares, mas se for associar o Yoga à política de alguma maneira, é impossível não se posicionar. E a posição do Yoga, pelo menos a partir do que podemos entender de Patañjali, é contra a injustiça, contra a exclusão social e contra a violência em discurso e em ato.
Falar de política colocando-se como neutro é uma contradição imensa. É estar num ato, que é político em si, falando como se estivesse fora. Até mesmo a negação da política é um ato político. Yoga não é neutralidade.
» por O objetivo do Yoga não é político em si. Você pode alcançar o objetivo do Yoga sem sequer falar de política. Moksha pode se dar numa caverna nos Himalaias. Mas isso não quer dizer que a política não esteja no Yoga.
Quando Patañjali fala dos oito membros do Yoga, como o suporte para o reconhecimento de si mesmo, ele começa pelos valores. Não é uma moral, é uma ética muito profunda. É uma ética em favor da estética, de uma vida mais bela e mais harmônica para todos. O fundamento dessa ética é a não violência. A não violência não consiste apenas em não matar ou não agredir. É um profundo respeito por todas as formas de vida, seja ela humana, em toda a sua diversidade, ou natural, em toda a sua grandeza e delicadeza.
Pois bem, como professores de Yoga, dentro desse papel social que desempenhamos, acredito sim que é possível dar uma aula sem tocar em política, e talvez isso seja mais proveitoso em muitos casos. Podemos falar sobre corpo físico, sútil e causal, sobre os gunas, sobre Ishvara e Brahman. Mas, se, por qualquer questão, formos falar de política enquanto relações sociais, sobretudo no momento em que estamos vivendo, é impensável nos colocarmos a partir de uma neutralidade.
Muitas pessoas estão sofrendo violências, direta e indiretamente, por conta de um discurso raivoso, excludente e irracional. Usar o Yoga para dizer que não podemos nos indignar, que quem se sente indignado com o que está acontecendo “é porque está desconectado”, é, a meu ver, um discurso exageradamente blasé. É tentar simplificar algo que é muito mais complexo.
Há pessoas que estão sendo impedidas de cumprir o seu papel social, grupos que estão sob ameaça constante, cultural e existencial. Enquanto isso, como yogi, eu devo assistir tudo impassível, com olhar semicerrado, como se não me tocasse? Se não me sinto tocado por isso, certamente não farei nada a respeito, em nenhuma situação que se coloque pra mim. Sequer numa conversa em família ou mesmo quando um aluno perguntar o que eu acho.
Não digo que você precise defender ou se filiar a partido algum ou que deva mudar de trabalho para militar em alguma causa, ou que tenha que brigar com familiares, mas se for associar o Yoga à política de alguma maneira, é impossível não se posicionar. E a posição do Yoga, pelo menos a partir do que podemos entender de Patañjali, é contra a injustiça, contra a exclusão social e contra a violência em discurso e em ato.
Falar de política colocando-se como neutro é uma contradição imensa. É estar num ato, que é político em si, falando como se estivesse fora. Até mesmo a negação da política é um ato político. Yoga não é neutralidade.
Leia na sequência:
Yoga e política
A força política do Yoga
- Artigo originalmente publicado em 26 de setembro de 2019 em vidadeyoga.com.br, o site do Tales. [↩]
Yoga tem tudo haver com política. Não a partidária, mas com o exercício da cidadania, a luta pelos nossos direitos (e de todos). Já vi um comentário sobre Asteya falando que não é só não se apossar do que não é seu, mas trabalhar de forma que ou outros tenham o que lhes é de direito, como educação de qualidade, alimentação, segurança, moradia e saúde.
Com toda certeza, Júlio. Concordo plenamente com você!