Yoga e Ayurveda: o sentido original da prática de asanas
Juliana Luna (1)
Originalmente, Ayurveda é a disciplina védica para a saúde do corpo e da mente, e Yoga é o sistema correspondente para prática espiritual. Ambas ciências cresceram na mesma raiz da antiga Índia e caminham juntas.
Essas ciências são baseadas no reconhecimento da força vital, chamada prana. Para o Yoga e o Ayurveda, o corpo é um objeto criado e energizado por essa energia vital como um veículo para a consciência.
Para essas duas ciências, devemos viver de acordo com nossa natureza única e suas capacidades, pois cada indivíduo possui um tipo diferente de mente e corpo.
Mesmo na Índia moderna, poucos Instrutores de Hatha Yoga estão conscientes das implicações ayurvédicas da prática de Yoga, e ensinam asanas sem levar em conta suas conexões com a criação e a distribuição de energia no corpo. Originalmente, o Yoga descreve os asanas em termos energéticos e ayurvédicos.
Considerando que os asanas não são apenas um mero exercício físico, mas carregadores de energia no corpo, existem duas tipologias fundamentais que ajudam ao praticantes de asanas.
A primeira e mais importante são as três qualidades da natureza: equilíbrio (sattva), movimento (rajas) e inércia (tamas) (2). A mente é naturalmente pacífica, mas quando, através dos sentidos (olhos, ouvidos…), entra em contato com o mundo exterior, torna-se agitada, perdendo o seu foco interior, o que a leva a uma busca por felicidade e prazer fora de si mesmo.
O objetivo do Yoga é o gerenciamento desses três aspectos da existência (gunas, em sânscrito) e o equilíbrio da tendência ao excesso ou deficiência na execução de ações, já que alguns fazem demais, enquanto outros tendem a fazer de menos.
Conhecimento e ação caminham juntos, ajudando-nos a executar ações com a mente e com a energia juntas e a estarmos presentes e totais em tudo o que fazemos.
O objetivo dos asanas no Yoga clássico é reduzir a agitação, o calor e a agressão (rajas) para criar um estado de calma e paz (sattva) no corpo e na mente. Isso pressupõe que a pessoa já eliminou a inércia e a preguiça (tamas), o que não é o caso da maioria de nós na vida urbana sedentária moderna, a qual propicia o aumento de depressão, baixa energia e obesidade. Para o Yoga clássico, o corpo físico é a manifestação da consciência e a cristalização de padrões de comportamento criados pelos nossos pensamentos.
Ayurveda reconhece três formas de energia vital como base para saúde ou doença, o que em sânscrito chama-se doshas (que significa “o que faz com que as coisas se estraguem”). Essas são as três principais formas de toxinas que causam dor e doença quando acumulados no corpo, e são chamados de vento (vata), bile (pitta) e muco (kapha). O vento causa secura, rigidez, nervosismo e debilidade; a bile (uma forma de fogo) causa infecção, inflamação, sangramento e febre, e o muco causa congestão, edema e obesidade. Para o Ayurveda, o corpo é a manifestação desses três doshas, que são energias psicológicas.
Vata é o transportador, responsável pelo movimento, expressão e descarga de todos os impulsos, agindo pelo sistema nervoso, através do qual flui como uma corrente elétrica. Vata acumula-se no cólon, onde resíduos gasosos acumulam-se espalhando-se no sangue, ossos e outras partes do corpo.
Pitta é o provocador ou promotor e a força transformativa responsável pela digestão, calor e percepção, agindo através do sistema digestivo e localizando-se no intestino delgado, onde ácido em excesso acumula-se e espalha-se através do corpo.
Kapha é o que resiste, sendo a força conservadora que age através do plasma ou do sistema linfático, localizando-se no estômago, onde o muco em excesso acumula-se e espalha-se através do sangue para diferentes partes do copo.
O propósito da prática de asanas é evitar que esses doshas acumulem-se nos seus lugares primários (vata no intestino grosso, pitta no intestino delgado e kapha no estômago) e provoquem enfermidades, mantendo o seu fluxo adequado. Os efeitos calmantes, alongantes e relaxantes dos asanas acalmam vata, esfriam pitta e liberam kapha.
Dentro dessa perspectiva, asanas não são posições estáticas, mas condições de energia, que se transformam em manifestações de consciência.
Num nível mais básico, um asana é uma pose física no qual colocamos o corpo numa posição que possui um resultado e um efeito estrutural específico, dependendo da forma que cria no corpo. Posições de pé aumentam a força e o nível de energia. Flexões para trás excitam o sistema nervoso simpático. Posições sentadas trazem estabilidade para a coluna, flexibilidade para a parte posterior das pernas e criam uma sensação de calma.
No nível mais profundo, o asana é uma condição de energia, não uma mera estrutura física. Asanas expressam qualidades de energia, e são veículos através dos quais a energia vital é direcionada. A qualidade energética do asana depende da velocidade com que a pose é realizada, do nível de força usado e como se respira durante o asana. O objetivo do asana é acalmar o corpo para que possamos trabalhar com nossa energia vital, que manifesta-se quando o corpo está parado.
O efeito do asana varia dependendo se nossa mente está clara ou confusa, e se nossas emoções estão calmas ou turbulentas. A precisão técnica é importante, mas é o estado mental que determina o aspecto liberador do asana para a consciência.
Podemos mudar o efeito do asana trazendo consciência para a prática, através da concentração no alinhamento corporal e na tração que criamos ao alongar o corpo alinhado, assim a energia e a atenção que colocamos na pose é tão importante quanto a pose em si.
Trazendo a consciência para a prática de asanas, desenvolvemos a capacidade de observar colocando a mente num lugar de silêncio, desapego e não julgamento, e mergulhando totalmente na plenitude do momento presente.
» por Originalmente, Ayurveda é a disciplina védica para a saúde do corpo e da mente, e Yoga é o sistema correspondente para prática espiritual. Ambas ciências cresceram na mesma raiz da antiga Índia e caminham juntas.
Essas ciências são baseadas no reconhecimento da força vital, chamada prana. Para o Yoga e o Ayurveda, o corpo é um objeto criado e energizado por essa energia vital como um veículo para a consciência.
Para essas duas ciências, devemos viver de acordo com nossa natureza única e suas capacidades, pois cada indivíduo possui um tipo diferente de mente e corpo.
Mesmo na Índia moderna, poucos Instrutores de Hatha Yoga estão conscientes das implicações ayurvédicas da prática de Yoga, e ensinam asanas sem levar em conta suas conexões com a criação e a distribuição de energia no corpo. Originalmente, o Yoga descreve os asanas em termos energéticos e ayurvédicos.
Considerando que os asanas não são apenas um mero exercício físico, mas carregadores de energia no corpo, existem duas tipologias fundamentais que ajudam ao praticantes de asanas.
A primeira e mais importante são as três qualidades da natureza: equilíbrio (sattva), movimento (rajas) e inércia (tamas) (2). A mente é naturalmente pacífica, mas quando, através dos sentidos (olhos, ouvidos…), entra em contato com o mundo exterior, torna-se agitada, perdendo o seu foco interior, o que a leva a uma busca por felicidade e prazer fora de si mesmo.
O objetivo do Yoga é o gerenciamento desses três aspectos da existência (gunas, em sânscrito) e o equilíbrio da tendência ao excesso ou deficiência na execução de ações, já que alguns fazem demais, enquanto outros tendem a fazer de menos.
Conhecimento e ação caminham juntos, ajudando-nos a executar ações com a mente e com a energia juntas e a estarmos presentes e totais em tudo o que fazemos.
O objetivo dos asanas no Yoga clássico é reduzir a agitação, o calor e a agressão (rajas) para criar um estado de calma e paz (sattva) no corpo e na mente. Isso pressupõe que a pessoa já eliminou a inércia e a preguiça (tamas), o que não é o caso da maioria de nós na vida urbana sedentária moderna, a qual propicia o aumento de depressão, baixa energia e obesidade. Para o Yoga clássico, o corpo físico é a manifestação da consciência e a cristalização de padrões de comportamento criados pelos nossos pensamentos.
Ayurveda reconhece três formas de energia vital como base para saúde ou doença, o que em sânscrito chama-se doshas (que significa “o que faz com que as coisas se estraguem”). Essas são as três principais formas de toxinas que causam dor e doença quando acumulados no corpo, e são chamados de vento (vata), bile (pitta) e muco (kapha). O vento causa secura, rigidez, nervosismo e debilidade; a bile (uma forma de fogo) causa infecção, inflamação, sangramento e febre, e o muco causa congestão, edema e obesidade. Para o Ayurveda, o corpo é a manifestação desses três doshas, que são energias psicológicas.
Vata é o transportador, responsável pelo movimento, expressão e descarga de todos os impulsos, agindo pelo sistema nervoso, através do qual flui como uma corrente elétrica. Vata acumula-se no cólon, onde resíduos gasosos acumulam-se espalhando-se no sangue, ossos e outras partes do corpo.
Pitta é o provocador ou promotor e a força transformativa responsável pela digestão, calor e percepção, agindo através do sistema digestivo e localizando-se no intestino delgado, onde ácido em excesso acumula-se e espalha-se através do corpo.
Kapha é o que resiste, sendo a força conservadora que age através do plasma ou do sistema linfático, localizando-se no estômago, onde o muco em excesso acumula-se e espalha-se através do sangue para diferentes partes do copo.
O propósito da prática de asanas é evitar que esses doshas acumulem-se nos seus lugares primários (vata no intestino grosso, pitta no intestino delgado e kapha no estômago) e provoquem enfermidades, mantendo o seu fluxo adequado. Os efeitos calmantes, alongantes e relaxantes dos asanas acalmam vata, esfriam pitta e liberam kapha.
Dentro dessa perspectiva, asanas não são posições estáticas, mas condições de energia, que se transformam em manifestações de consciência.
Num nível mais básico, um asana é uma pose física no qual colocamos o corpo numa posição que possui um resultado e um efeito estrutural específico, dependendo da forma que cria no corpo. Posições de pé aumentam a força e o nível de energia. Flexões para trás excitam o sistema nervoso simpático. Posições sentadas trazem estabilidade para a coluna, flexibilidade para a parte posterior das pernas e criam uma sensação de calma.
No nível mais profundo, o asana é uma condição de energia, não uma mera estrutura física. Asanas expressam qualidades de energia, e são veículos através dos quais a energia vital é direcionada. A qualidade energética do asana depende da velocidade com que a pose é realizada, do nível de força usado e como se respira durante o asana. O objetivo do asana é acalmar o corpo para que possamos trabalhar com nossa energia vital, que manifesta-se quando o corpo está parado.
O efeito do asana varia dependendo se nossa mente está clara ou confusa, e se nossas emoções estão calmas ou turbulentas. A precisão técnica é importante, mas é o estado mental que determina o aspecto liberador do asana para a consciência.
Podemos mudar o efeito do asana trazendo consciência para a prática, através da concentração no alinhamento corporal e na tração que criamos ao alongar o corpo alinhado, assim a energia e a atenção que colocamos na pose é tão importante quanto a pose em si.
Trazendo a consciência para a prática de asanas, desenvolvemos a capacidade de observar colocando a mente num lugar de silêncio, desapego e não julgamento, e mergulhando totalmente na plenitude do momento presente.
- Visite o site da Juliana em yogasantafelicidade.com [↩]
- Ou também conhecimento (sattva), ação (rajas) e ausência de conhecimento e de ação (tamas) – nota do Editor. [↩]
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