Maithuna, liturgia sexual
Professor Hermógenes (1921-2015) (1)
Fala-se e se escreve sobre “Yoga do Sexo“, e aventureiramente algumas pessoas, por ignorância ou malandrice, definem Tantra como “Yoga do Sexo“. Em geral, aqueles que, já engajados numa vida erótica irresponsável, aspiram encontrar nas venerandas escrituras uma absolvição religiosa para o que já vêm fazendo e não desejam parar. Para que tal homologação?! Se querem continuar onde estão, que continuem, mas não tentem fazer o sagrado abençoar o profano. Sugiro que se esclareçam. Estudem, por exemplo, a tese da psiquiatra Elizabeth Haich publicada no livro Energia Sexual e Yoga-Tantra: A Canalização da Força Criadora Divina (2).
Os que estudam os Mestres e as escrituras tântricas se deslumbram com a beleza e a santidade dos muitos rituais externos prescritos. Poderão também encontrar, em algumas fontes da “mão esquerda”, claras referências ao maithuna, que é a união sexual ritualística de um casal de sadhakas (aspirantes espirituais), a imitar com seus corpos o “coito cósmico”, com o qual o casal Shiva-Shakti gera os universos.
O maithuna é a união sexual alçada à sua maior sublimidade e pureza, quando cada cônjuge, no desfrute da bem-aventurança, se une, em castidade, no ser do outro, e, se transcendendo, unificados no genuíno amor, se fundem jubilosamente na Unidade de Deus. A proposta é sábia, austera e linda. O devoto representa Shiva, e sua esposa (legítima), a Shakti, a Mãe Divina, Parvati. A fim de assegurar tão rara magnificência espiritual, o casal, por longo tempo, se engaja em austera disciplina espiritual. Pureza e santidade são absolutamente indispensáveis. Sem elas, maithuna não passa de normal fornicação. Por motivos técnicos e litúrgicos, a união não deve culminar na ejaculação natural, pois isso derrubaria a dignidade, a pureza e a significação cósmica do ato. Ora, isso é imensamente difícil e sem dúvida impossível a quem não seja dotado de um grau elevadíssimo de autocontrole, pureza espiritual e santidade. A energia seminal retida é então canalizada para um nível divinizante mais sutil.
Maithuna, quando degradado por ignorância e desejos libertinos, indiscutivelmente nada tem a ver com espiritualização. Os que gostariam de praticar o famigerado “Yoga do Sexo” – uma criação esdrúxula – que renunciem à imprudente e mal inspirada tentativa; que deixem a libertadora experiência da Unidade a quem possa. E, a rigor, raríssimos podem.
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Os que estudam os Mestres e as escrituras tântricas se deslumbram com a beleza e a santidade dos muitos rituais externos prescritos. Poderão também encontrar, em algumas fontes da “mão esquerda”, claras referências ao maithuna, que é a união sexual ritualística de um casal de sadhakas (aspirantes espirituais), a imitar com seus corpos o “coito cósmico”, com o qual o casal Shiva-Shakti gera os universos.
O maithuna é a união sexual alçada à sua maior sublimidade e pureza, quando cada cônjuge, no desfrute da bem-aventurança, se une, em castidade, no ser do outro, e, se transcendendo, unificados no genuíno amor, se fundem jubilosamente na Unidade de Deus. A proposta é sábia, austera e linda. O devoto representa Shiva, e sua esposa (legítima), a Shakti, a Mãe Divina, Parvati. A fim de assegurar tão rara magnificência espiritual, o casal, por longo tempo, se engaja em austera disciplina espiritual. Pureza e santidade são absolutamente indispensáveis. Sem elas, maithuna não passa de normal fornicação. Por motivos técnicos e litúrgicos, a união não deve culminar na ejaculação natural, pois isso derrubaria a dignidade, a pureza e a significação cósmica do ato. Ora, isso é imensamente difícil e sem dúvida impossível a quem não seja dotado de um grau elevadíssimo de autocontrole, pureza espiritual e santidade. A energia seminal retida é então canalizada para um nível divinizante mais sutil.
Maithuna, quando degradado por ignorância e desejos libertinos, indiscutivelmente nada tem a ver com espiritualização. Os que gostariam de praticar o famigerado “Yoga do Sexo” – uma criação esdrúxula – que renunciem à imprudente e mal inspirada tentativa; que deixem a libertadora experiência da Unidade a quem possa. E, a rigor, raríssimos podem.
- Texto (originalmente publicado em 1994) extraído das páginas 131 e 132 da 7ª edição, de 2000, do livro Iniciação ao Yoga, do Professor Hermógenes (1921-2015), digitado por Cristiano Bezerra em 5 de fevereiro de 2001 e também publicado em yoga.pro.br. Visite o site do Instituto Hermógenes em institutohermogenes.com.br [↩]
- Editado por mim mesmo na Editora Nova Era. (Nota do Autor) [↩]
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