Descondicione-se!
Professor Hermógenes (1921-2015) (1)
Foi um daqueles que se afastaram sem se despedir. Conseguira compensadoras melhoras imediatas. Teve a “melhora inicial” a que me referi (2). Apesar de responsável por uma grande clientela, não obstante seus conhecimentos científicos, não conseguia tratar de si mesmo. Precisou do Yoga e o Yoga o atendeu. Como se fora sem dizer as razões, aceitei a hipótese de que se afastara exatamente porque melhorara, o que, inconscientemente, ele teria desejado que não acontecesse.
Hipótese errada. Seu afastamento não fora causado por isso, mas sim por outro motivo não menos imaturo. Recentemente, vim a saber.
Um amigo perguntou-lhe um dia desses: Por que trocou o prof. Hermógenes por este outro?
“Estou inteiramente de acordo com o que você diz de Hermógenes. Não desconheço a seriedade de seu trabalho. Com ele obtive melhoras. Mas, um dia, resolvi experimentar o atual. Que voz doce!… Que poder sugestivo!… Como me faz bem!… Tem a música, o incenso, a atmosfera calmante de penumbra… Tudo ali concorre para a tranquilidade e a concentração…”, foi o que respondeu.
Não obstante andar tratando dos outros, não obstante os anos vividos e os títulos que tem, meu ex-aluno, com isso, revelou-se um imaturo psicológico. O motivo da troca é de um primarismo de dar pena. O que realmente ele esteve e está procurando não é Yoga, mas um agradável condicionamento. O que faz seu bem-estar e sua segurança são os agentes externos, os fatores ambientais: uma voz artificial de galã de novela, a atmosfera de boate, a fumaça, a música entorpecente e a sugestão hipnoidal.
Tais elementos podem ser utilizados com finalidades hipnoidais e, efetivamente, conseguem tranquilizar personalidades imaturas, suscetíveis aos efeitos mágicos que as exterioridades bem arrumadas conseguem suscitar. Não é outra a técnica utilizada por todos os pajés de todos os tempos em todo esse mundo. O cerimonialismo para efeitos de magia é de larga utilização também por ditadores, por todos os Estados, cuja grandeza se faz na medida em que conseguem padronizar, uniformizar e massificar os indivíduos. Essa “liturgia”, que visa a tornar o ser humano cada vez mais manobrável e mais condicionado, isto é, menos livre e menos autêntico, consequentemente mais vulnerável, mais frágil, mais dominável, mais vinculado, menos humano e mais distanciado do seu Eu Real…, tem servido aos interesses de todos os espertalhões, curandeiros, demagogos e ditadores desse mundo.
Nesse aspecto, o Yoga é exatamente o oposto. Tudo o que condiciona é anti-yoga. Tudo o que mesmifica é anti-yoga. Tudo quanto frustra a autenticidade é anti-yoga. Tudo o que limita o homem, tornando-o mais um dependente, é anti-yoga. Yoga é um caminhar para a felicidade incondicionada pelas exterioridades; é um desvencilhar-se do que limita e empobrece a personalidade. Yoga é independência. É sentir-se bem e feliz em si mesmo, sem precisar de voz simpática, cheirinho bom, ambiente aconchegante, temperatura amena, dinheiro no bolso, dia de Sol, música suave e mesmo silêncio. Meus alunos praticam suas técnicas em uma sala de 100 metros quadrados, com sete janelas amplas, sem isolamento acústico, sem “alta fidelidade”, sem artificialismo, sem liturgia capciosa, sem o professor querer parecer oriental, sem o professor querer impingir que sua personalidade insinuante, sua “vibração”, seu “olhar estranho” e sua “voz caprichada” como elementos indispensáveis à cura… No que ensino e meus alunos praticam nada existe que:
a) não tenha cabal explicação científica;
b) dependa da presença do professor e dos fatores condicionantes do ambiente da Academia.
Nunca induzimos os alunos a pensar que o professor é o autor de melhoras e curas, muito menos os fatores mágicos ambientais. Para nossos alunos, nós professores representamos um fator direcional a ajudá-los a descobrir dentro de si, em si, independente de agentes externos, o poder imenso, a perfeição, a harmonia, a beleza, a paz e a segurança, pois o Reino de Deus está dentro de nós.
Eu gostaria que você encontrasse também em si mesmo todo suprimento de bem-aventurança e de paz que tem andado procurando por aí, pelo mundo externo, em amigos e parentes, nas coisas e nas circunstâncias… Enquanto fizer sua felicidade, saúde e segurança dependerem da voz macia de um qualquer, das amenidades do clima, da suavidade da música, das carícias da brisa fresca, do sorriso bonito de alguém, do elogio de seus chefes, da correspondência afetiva de outrem, das compensações que tem desejado, enquanto você depender de coisas que você obteve e pode vir a perder, estará sendo imaturo, se esvaziando, acumulando frustrações e impedindo a eclosão de sua personalidade mais profunda…
Em certos tratamentos, em certas relações humanas, onde alguém condiciona alguém, assinala-se uma dupla exploração. Um dá (supostamente dá) e outro pede. Um manda; outro obedece. Um tira proveito do outro. Essa relação é de mútua vinculação. Todos os embusteiros dependem de suas vítimas. Todos os engabelados dependem de quem os ilude. O charlatão erra por sadismo. A vítima, por masoquismo.
O que tenho querido para meus alunos e quero para você é crescente independência, um descondicionamento cada vez maior e a libertação progressiva.
O praticante de Yoga não fuma, não somente porque o fumo prejudica o organismo, mas principalmente para não ter seu bem-estar e sua tranquilidade condicionados ao canudinho branco recheado de veneno. O yogin não bebe, não só porque o álcool danifica o corpo, mas principalmente porque o alcoólatra é um semi-homem em sua escravidão ao copo, em seu condicionamento psíquico. O aspirante ao Yoga recusa os tranquilizantes ou estimulantes químicos porque tem a tranquilização ideal e perfeita em si mesmo. Ele sabe o quanto é trágica a chamada “síndrome de dependência” com que os organismos viciados (condicionados) às drogas reagem na ausência da dose, que deve ser cada vez maior. O yogin não se apega às coisas, às pessoas e às circunstâncias exteriores porque não é imaturo, feito uma criancinha que, para dormir, a mãe tem que lhe dar a “pepeta” e um travesseirinho para ficar cheirando, sem o quê se põe nervosa e insone.
Um educador que precisa fumar para poder dormir não é igualzinho à criança que precisa de chupeta? Estão ambos condicionados. O objeto condicionante é que difere. Ambos são vinculados. Outra diferença está em que o primeiro é vovô e o segundo, netinho.
No tratamento psiquiátrico, certos casos reclamam o uso de medicamento psicotrópico. O terapeuta, no entanto, deve ficar alerta para que essa fase não ultrapasse seu limite e, assim, evitar que aquilo que era remédio se converta em prejuízo para o enfermo. Preenchido seu papel terapêutico, o psicotrópico sempre se torna lesivo, pois começa a condicionar, gerando a “síndrome de dependência”.
Tenho recebido muitas pessoas viciadas em psicotrópicos. Chegam como verdadeiros escravos da “tranquilização química”. Em pouco tempo, progressivamente, conseguem se descondicionar (3).
O que desejo para você, nesse aspecto, é que substitua a confiança no “vidrinho de pílulas” por uma ilimitada fé em Deus, que está em você mesmo; e que troque pílulas por exercícios psicossomáticos e psicotrópicos, neste livro ensinados.
Por enquanto, sugiro que se recuse a qualquer condicionamento. Seja ao cigarro, à dose de uísque, boate, doutrinação de “falsos profetas”, silêncio e “tranquilizantes”. Não aceite cabrestos químicos, físicos e psíquicos ou de qualquer outra natureza. Aprenda a amar sua independência. Desenvolva confiança em si mesmo, isto é, na chispa divina que você é. Aprenda a buscar paz, energia, saúde, coragem, bem-estar e felicidade não nas coisas incontroláveis do mundo de fora, que podem fugir de seu alcance, mas sim na direção de dentro, onde, segundo a promessa e o ensino de quem não engana, está o Reino de Deus.
» por Foi um daqueles que se afastaram sem se despedir. Conseguira compensadoras melhoras imediatas. Teve a “melhora inicial” a que me referi (2). Apesar de responsável por uma grande clientela, não obstante seus conhecimentos científicos, não conseguia tratar de si mesmo. Precisou do Yoga e o Yoga o atendeu. Como se fora sem dizer as razões, aceitei a hipótese de que se afastara exatamente porque melhorara, o que, inconscientemente, ele teria desejado que não acontecesse.
Hipótese errada. Seu afastamento não fora causado por isso, mas sim por outro motivo não menos imaturo. Recentemente, vim a saber.
Um amigo perguntou-lhe um dia desses: Por que trocou o prof. Hermógenes por este outro?
“Estou inteiramente de acordo com o que você diz de Hermógenes. Não desconheço a seriedade de seu trabalho. Com ele obtive melhoras. Mas, um dia, resolvi experimentar o atual. Que voz doce!… Que poder sugestivo!… Como me faz bem!… Tem a música, o incenso, a atmosfera calmante de penumbra… Tudo ali concorre para a tranquilidade e a concentração…”, foi o que respondeu.
Não obstante andar tratando dos outros, não obstante os anos vividos e os títulos que tem, meu ex-aluno, com isso, revelou-se um imaturo psicológico. O motivo da troca é de um primarismo de dar pena. O que realmente ele esteve e está procurando não é Yoga, mas um agradável condicionamento. O que faz seu bem-estar e sua segurança são os agentes externos, os fatores ambientais: uma voz artificial de galã de novela, a atmosfera de boate, a fumaça, a música entorpecente e a sugestão hipnoidal.
Tais elementos podem ser utilizados com finalidades hipnoidais e, efetivamente, conseguem tranquilizar personalidades imaturas, suscetíveis aos efeitos mágicos que as exterioridades bem arrumadas conseguem suscitar. Não é outra a técnica utilizada por todos os pajés de todos os tempos em todo esse mundo. O cerimonialismo para efeitos de magia é de larga utilização também por ditadores, por todos os Estados, cuja grandeza se faz na medida em que conseguem padronizar, uniformizar e massificar os indivíduos. Essa “liturgia”, que visa a tornar o ser humano cada vez mais manobrável e mais condicionado, isto é, menos livre e menos autêntico, consequentemente mais vulnerável, mais frágil, mais dominável, mais vinculado, menos humano e mais distanciado do seu Eu Real…, tem servido aos interesses de todos os espertalhões, curandeiros, demagogos e ditadores desse mundo.
Nesse aspecto, o Yoga é exatamente o oposto. Tudo o que condiciona é anti-yoga. Tudo o que mesmifica é anti-yoga. Tudo quanto frustra a autenticidade é anti-yoga. Tudo o que limita o homem, tornando-o mais um dependente, é anti-yoga. Yoga é um caminhar para a felicidade incondicionada pelas exterioridades; é um desvencilhar-se do que limita e empobrece a personalidade. Yoga é independência. É sentir-se bem e feliz em si mesmo, sem precisar de voz simpática, cheirinho bom, ambiente aconchegante, temperatura amena, dinheiro no bolso, dia de Sol, música suave e mesmo silêncio. Meus alunos praticam suas técnicas em uma sala de 100 metros quadrados, com sete janelas amplas, sem isolamento acústico, sem “alta fidelidade”, sem artificialismo, sem liturgia capciosa, sem o professor querer parecer oriental, sem o professor querer impingir que sua personalidade insinuante, sua “vibração”, seu “olhar estranho” e sua “voz caprichada” como elementos indispensáveis à cura… No que ensino e meus alunos praticam nada existe que:
a) não tenha cabal explicação científica;
b) dependa da presença do professor e dos fatores condicionantes do ambiente da Academia.
Nunca induzimos os alunos a pensar que o professor é o autor de melhoras e curas, muito menos os fatores mágicos ambientais. Para nossos alunos, nós professores representamos um fator direcional a ajudá-los a descobrir dentro de si, em si, independente de agentes externos, o poder imenso, a perfeição, a harmonia, a beleza, a paz e a segurança, pois o Reino de Deus está dentro de nós.
Eu gostaria que você encontrasse também em si mesmo todo suprimento de bem-aventurança e de paz que tem andado procurando por aí, pelo mundo externo, em amigos e parentes, nas coisas e nas circunstâncias… Enquanto fizer sua felicidade, saúde e segurança dependerem da voz macia de um qualquer, das amenidades do clima, da suavidade da música, das carícias da brisa fresca, do sorriso bonito de alguém, do elogio de seus chefes, da correspondência afetiva de outrem, das compensações que tem desejado, enquanto você depender de coisas que você obteve e pode vir a perder, estará sendo imaturo, se esvaziando, acumulando frustrações e impedindo a eclosão de sua personalidade mais profunda…
Em certos tratamentos, em certas relações humanas, onde alguém condiciona alguém, assinala-se uma dupla exploração. Um dá (supostamente dá) e outro pede. Um manda; outro obedece. Um tira proveito do outro. Essa relação é de mútua vinculação. Todos os embusteiros dependem de suas vítimas. Todos os engabelados dependem de quem os ilude. O charlatão erra por sadismo. A vítima, por masoquismo.
O que tenho querido para meus alunos e quero para você é crescente independência, um descondicionamento cada vez maior e a libertação progressiva.
O praticante de Yoga não fuma, não somente porque o fumo prejudica o organismo, mas principalmente para não ter seu bem-estar e sua tranquilidade condicionados ao canudinho branco recheado de veneno. O yogin não bebe, não só porque o álcool danifica o corpo, mas principalmente porque o alcoólatra é um semi-homem em sua escravidão ao copo, em seu condicionamento psíquico. O aspirante ao Yoga recusa os tranquilizantes ou estimulantes químicos porque tem a tranquilização ideal e perfeita em si mesmo. Ele sabe o quanto é trágica a chamada “síndrome de dependência” com que os organismos viciados (condicionados) às drogas reagem na ausência da dose, que deve ser cada vez maior. O yogin não se apega às coisas, às pessoas e às circunstâncias exteriores porque não é imaturo, feito uma criancinha que, para dormir, a mãe tem que lhe dar a “pepeta” e um travesseirinho para ficar cheirando, sem o quê se põe nervosa e insone.
Um educador que precisa fumar para poder dormir não é igualzinho à criança que precisa de chupeta? Estão ambos condicionados. O objeto condicionante é que difere. Ambos são vinculados. Outra diferença está em que o primeiro é vovô e o segundo, netinho.
No tratamento psiquiátrico, certos casos reclamam o uso de medicamento psicotrópico. O terapeuta, no entanto, deve ficar alerta para que essa fase não ultrapasse seu limite e, assim, evitar que aquilo que era remédio se converta em prejuízo para o enfermo. Preenchido seu papel terapêutico, o psicotrópico sempre se torna lesivo, pois começa a condicionar, gerando a “síndrome de dependência”.
Tenho recebido muitas pessoas viciadas em psicotrópicos. Chegam como verdadeiros escravos da “tranquilização química”. Em pouco tempo, progressivamente, conseguem se descondicionar (3).
O que desejo para você, nesse aspecto, é que substitua a confiança no “vidrinho de pílulas” por uma ilimitada fé em Deus, que está em você mesmo; e que troque pílulas por exercícios psicossomáticos e psicotrópicos, neste livro ensinados.
Por enquanto, sugiro que se recuse a qualquer condicionamento. Seja ao cigarro, à dose de uísque, boate, doutrinação de “falsos profetas”, silêncio e “tranquilizantes”. Não aceite cabrestos químicos, físicos e psíquicos ou de qualquer outra natureza. Aprenda a amar sua independência. Desenvolva confiança em si mesmo, isto é, na chispa divina que você é. Aprenda a buscar paz, energia, saúde, coragem, bem-estar e felicidade não nas coisas incontroláveis do mundo de fora, que podem fugir de seu alcance, mas sim na direção de dentro, onde, segundo a promessa e o ensino de quem não engana, está o Reino de Deus.
Leia na sequência:
Tenha a coragem de ser diferente
Descondicione-se
Leia também:
Criar bons hábitos e destruir maus hábitos
- Texto extraído das páginas 193 a 196 da 35ª edição, de 2001, do livro Yoga para Nervosos (1965), do Professor Hermógenes (1921-2015), digitado por Cristiano Bezerra em 10 de setembro de 2001 e também publicado em yoga.pro.br. Visite o site do Instituto Hermógenes em institutohermogenes.com.br [↩]
- Na página 73 da 35ª edição, de 2001, do livro Yoga para Nervosos. (Nota do Digitador/Editor) [↩]
- Apresentei ao IX Congresso Nacional de Psiquiatria, Neurologia e Higiene Mental (Rio de Janeiro, 1969) um trabalho intitulado Psicotropismo não-químico, no qual apresentei a Yogaterapia psicotrópica como solução. [↩]
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